Aranhosca – a nojeira do dia a dia em sete capítulos.

CAPÍTULO I

– Amor, você limpou a cadeirinha da bebê?
– Ainda não – ele respondeu com muita irritação.
– Puta que me pariu! Onde a garota vai comer? Essa merda tá fedendo, tá toda cagada já. Você sabe que ela comeu mingau ontem e essa porra desse leite azedo, estragado, é letal!
– Eu que tenho que fazer tudo nessa casa!? Caralho também. Por que que você não pega e limpa essa merda?Lá fui eu pegar a cadeirinha. Nojo, desgosto, raiva, indignação. Não sei nem dizer direito o que que estava acontecendo comigo naquele momento. Mas eu que não ia lavar aquela merda também não! Ele que se virasse depois. Eu só tinha que colocar mesmo para dar uma arejada porque a situação estava calamitosa.
Desmontei a cadeirinha de alimentação da bebê. A gente tinha uma bancada alta que separava a cozinha estilo americana da sala. A cadeirinha da bebê era daquele estilo Clip On que fica acoplada à mesa. Ela se encaixa no tampo da mesa e fica fixa ali direto. Mas aí, nas parte que ficam coladas na mesa, vai entrando e acumulando comida. Uma desgraça. Muito prática a cadeirinha, bonita… Mas bem nojentinha se você não tirar ela, lavar e limpar o tempo todo. E com criança pequena você sabe como é, né? A gente não tem tempo de ir no banheiro fazer coco e limpar o cu direito. Imagina essas outras coisas do dia a dia.
Eu sei que quando eu fui tirar a cadeirinha para arejar, saiu um bicho correndo ali daquele resto de comida acumulada! Putz, cara. Mas enfim. Eu não vi para onde foi. Também não parecia nada demais. Ia morrer ou os gatos iam dar conta depois.

Coloquei a cadeirinha para arejar e sentei na poltrona em baixo da janela. Estava sol, mas não estava calor. Não sei se é só impressão minha, mas esse inverno de 2021 foi bem fresco. A bebê estava dormindo. Se não tivesse também eu não teria tido tempo nem mesmo de colocar a cadeirinha na janela. Eu olhei para a sujeira que ainda estava na mesa e que havia caído no chão quando eu tirei a cadeirinha e fiquei triste. Meu deus, ela tinha tomado café da manhã alí! Será que esse bicho já estava lá? Me senti tão incompetente. Senti que estava falhando miseravelmente como mãe. Meu marido veio ajoelhar na minha frente e me dizer que estava tudo bem. Ele viu o bicho que saiu de baixo do braço da cadeirinha e, apesar dele não parecer se abalar como eu, isso também deixa ele impactado. Apesar de toda a sobrecarga, a gente não está dando conta de tudo e isso é muito massacrante.

Não sei nem narrar o resto do dia para vocês. Foi tudo corrido e desgastante como sempre.

A noite, depois que a bebê dorme,a gente ainda vai ajeitar umas últimas coisas da casa, às vezes a gente pede uma comida, e ficamos juntos até não aguentarmos mais. Naquela noite a gente tava exausto demais, com fome demais, nos sentíamos estranhos… Exageramos então e pedimos um luxo, comida japonesa! A noite terminava bem, a gente se sentia minimamente recuperado do estresse e do cansaço. Eu fui colocar as caixas da comida japonesa ao lado da porta. Hoje não era dia de lixo. Só amanhã. E eu tive a impressão de ter visto de relance um bicho estranho, do tamanho de uma azeitona. Até brinquei com meu marido:

– Deve ser aquele alien que saiu da cadeirinha dela!

Mas a verdade é que eu achei que havia sido uma ilusão por conta do cansaço. E pensar que eu poderia ter acabado com tudo naquele momento… Infelizmente eu não acreditei no que vi e isso nos faria pagar um preço alto nos próximos dias.